Renata Bicalho

Escritora

Oi gente!

Há pouco mais de cinco anos, eu e minha família chegávamos de malas e móveis vindos do Brasil, para morar na Costa Rica. Não era a minha primeira experiência de mudança de país. Eu já tinha morado nos Estados Unidos e na Itália antes. Mas os últimos 10 anos haviam sido passados no Brasil, com meu marido e eu, trabalhando em nossas respectivas carreiras, ele em uma multinacional e eu formada em direito e servidora pública federal concursada.

Toda mudança traz dificuldades, medos, desafios mas também muitas oportunidades. Minha vida no Brasil era super corrida. Dividida entre casa, família, filhos, trabalho, atividade física, compras de supermercado, atividades sociais, etc. Ao chegar na Costa Rica, de um dia para o outro me vi no tempo, com tempo e em tempo. Enquanto meu marido e os meus filhos passavam o dia fora de casa, eu me vi dentro. Sozinha, sem compromissos, sem obrigações, sem uma enorme lista de afazeres diários, sem trabalho. O que eu tinha era algo escasso para a maioria das pessoas: tempo.

Descobri que aquele era o meu momento de transformação. Eu podia me analisar, aprofundar em mim mesma e me reinventar. A natureza exuberante da Costa Rica, o clima agradável de dias ensolarados e doces, aliados ao silêncio externo e ao recém descoberto silêncio interno, me abriram portas e janelas para uma nova fase na vida. 

Entre yoga, leitura e estudos – fiz vários cursos por aqui – retomei também um hábito antigo, a escrita. 

Há pouco mais de dois anos, já bastante adaptada ao novo país e ao espanhol, descobri um curso de escrita criativa, o taller de escritura mágica da professora Aurelia Dobles.

Com a orientação e guia especiais da Aurélia, e com o carinho e companheirismo de outras colegas de curso fui, aos poucos, exercitando o “músculo” da criatividade, me reconectando com a fonte de criação, e aprendendo a soltar a mão e deixar que a caneta determinasse seu próprio rumo. Assim, entre exercícios de escrita, aulas, estudos e muita dedicação, assisti, na primeira fila, o meu “renascimento”. 

Dizem que são dois os dias mais importantes da nossa vida: o dia em que nascemos, e o dia em que descobrimos nosso propósito. Aqui na Costa Rica, me encontrei comigo mesma e descobri que a escrita me fascina, me acalma, me agita, me compreende e me confunde ao mesmo tempo. 

Há mais de dois anos venho escrevendo de forma mais técnica e disciplinada. Já tive dois contos publicados em espanhol, em uma antologia feminina, com direito a lançamento de livro com leituras coletivas e noite de autógrafos – antes da pandemia, claro. Vi e vivi a experiência de ter esse livro, a antologia feminina, exposta na vitrine das principais livrarias do país! Essa experiência me encheu de coragem para que eu lançasse meu primeiro livro, “O Jardim de Chloe”, em publicação independente na Amazon. Diretamente do meu caderno para o mundo!

Minha curva de aprendizado tem sido trabalhosa, mas também maravilhosa. Não passo um único dia sem escrever alguma coisa e sem ler e estudar sobre a escrita. Invado madrugadas aprendendo com gosto, sem ver o tempo passar. Aquele tempo livre, que parecia inesgotável nos primeiros dias, hoje é completamente recheado de aprendizado e realização pessoal. Escrevo para mim e por mim. Me desenrolo, como um novelo de lã, nas palavras que surgem no caderno. Descubro coisas que não imaginava existir aqui dentro. Compreendo experiências que me serviram como aprendizado. Entendo que, ao me abrir para o mundo, o mundo também se abre para mim.

Após publicar o primeiro livro infantil, percebi que uma grande parte das pessoas com quem convivo hoje não o conseguia ler por não falar português. Assim, a tradução para o inglês foi o passo natural para O Jardim de Chloe. E como a amazon é um portal para o mundo, ao reativar o meu blog, antes ocupado apenas com a fotografia, e ao retomar contato com amigos e conhecidos de várias fases da minha vida, assisti em êxtase ao meu livro sendo comprado em diversos cantos do globo, seja a versão em português ou a em inglês. Alemanha, Espanha, Inglaterra, Holanda, China, Canadá, Japão, Estados Unidos… Quando eu poderia ter sonhado com tamanha alegria. Pessoas com quem eu havia perdido o contato dezenas de anos atrás, me procuraram para dizer que tinham lido o meu livro e elogiar o meu trabalho! O livro traduzido para o espanhol é a última novidade. Acaba de ser lançado!

O Jardim de Chloe alcançou o segundo lugar na lista de livros infantis ilustrados mais vendidos pela amazon do Brasil por 3 dias seguidos. Ficou entre os 10 mais e depois entre os 20 mais vendidos nessa categoria por diversas semanas e continua sendo bem recebido pelos leitores. Gratidão por tudo isso!

O próximo passo foi dar corda a uma grande vontade que tomava conta de mim: escrever uma história honrando a memória de várias mulheres minhas antepassadas. Mais uma vez, soltei a mão e deixei a caneta me guiar. Nasceu o romance “Não há como escapar do seu sequestro”, lançado em ebook no final do ano passado.

Ao mesmo tempo, o grupo de escritoras daquela antologia feminina foi convidado a organizar uma exposição em um museu nacional. Sob a coordenação excepcional da minha professora, Aurélia Dobles, e com o apoio do Ministério da Cultura da Costa Rica, da Embaixada da Espanha e outras entidades importantes, trechos do livro O jardim de Chloe e do meu romance ganharam vida, e poderão ser vistos em crianças soltando pipas e personagens em tamanho real – a menina Chloe e o gato Zebra, vestidos de astronautas, flutuando no museu a partir da quinta-feira, dia 25 de fevereiro. 

A exposição terá entrada gratuita e estará no museu Rafael Calderón Guardia pelo período de um mês. Após ser desmontada, será encaminhada mais adiante a outro museu importante, em outra cidade, Cartago, onde permanecerá por mais 30 dias.

Tanto na antologia feminina, como na exposição no museu, o grupo conta com diversas mulheres, muitas ticas – nascidas na Costa Rica – e algumas outras da Venezuela, Chile, Equador, Argentina, Espanha, Guatemala, Nicarágua e eu, a única brasileira, a única que não possui o espanhol como língua materna. Imaginem minha honra em ter essa oportunidade incrível de poder representar o Brasil nesse evento tão importante para a cultura. 

Esperamos que você se divirta tanto quanto nós nos divertimos ao criar as histórias. E desejamos que muitos visitantes, sejam virtuais ou presenciais, se deixem contagiar pelo nosso amor à escrita e decidam se juntar a nós, lendo, escrevendo e criando histórias.

Hoje sou só gratidão!

Pura Vida!

Namasté!

 

La hebra infinita:

 “Un viaje por la imaginación de la literatura femenina: no solo textos, sino el tejido de la sonoridad; el graffitti de la mano en movimiento; los trazos de valentía y resiliencia; los juegos de la libertad, la imaginación, la fe, el asombro y la perseverancia.”  

“La forjadura femenina de las palabras proviene de experiencias particulares, indispensables para la comprensión de la aventura humana”- Aurelia Dobles.

Exposición en el Museo Calderón Guardia, de 25 de febrero al 25 de marzo.

 

 

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