Completamos hoje, pelo menos aqui na Costa Rica, 26 semanas, 182 dias de isolamento social. São seis meses, meio ano, em regime de reclusão domiciliar. Presos em casa. Claro que agora estão tentando iniciar a fase de abertura, mas nada voltou ao normal. E não sabemos se voltará, ou se teremos que nos acostumar ao o ‘novo normal’. Acho que a segunda opção é a mais provável, porque ninguém será como antes. Tanto tempo afastado de convívio social normal, tranquilo, sem as preocupações dos protocolos de segurança ou dos decretos determinando horários em que se pode sair, para onde se pode ir, com quem, etc. Tantas famílias que perderam pessoas, tantos desempregados, empresários falidos, lojas e restaurantes definitivamente fechados, tantos sonhos estilhaçados como vidraças em um furacão. Sim, porque cada ser humano neste planeta tem seu mundo, seus objetivos, seus sonhos. Independente de sexo, idade, tamanho, cor, estado civil, religião, nacionalidade, país de residência, cada um de nós tem seu mundo interno único, e neles habitam lembranças – boas e ruins, objetivos, sonhos, esperanças, planos. E todos nós, todos, tivemos nossa liberdade tolhida de alguma forma durante esses últimos seis meses. De fronteiras de países fechadas, a voos cancelados, de escolas e empresas fisicamente fechadas, a uma vida inteira transferida para a realidade virtual – de um dia para o outro. Foi difícil, pelo menos em algum aspecto, para todo mundo. E seguramente sairemos dessa experiencia diferentes.
Ontem precisei sair de casa, oficialmente, pela primeira vez. Até então, as saídas eram limitadas ao mínimo necessário. Mas ontem foi um dia especial. Com hora agendada com uma fotógrafa profissional, dentro do prédio do Ministério da Cultura do país, para uma sessão de fotos oficiais para um evento que já deveria ter acontecido, mas foi adiado, como tantas outras coisas, para o próximo ano. Mas a programação para esse evento de escritoras aqui da Costa Rica, um círculo mágico de mulheres que se atrevem a se expressar através das palavras e do qual tenho a honra de participar, continua firme e forte. E ontem, depois de seis meses andando de havaianas, precisei pensar no que vestir, fazer uma escova nos cabelos e uma maquiagem leve para ajudar na foto! Esse pequeno compromisso, que talvez tivesse passado quase desapercebido em outras épocas, virou um evento importantíssimo após seis meses de isolamento. Nossa alma tem sede de contato, de convívios, de relacionamentos. Mas vamos ficando em casa, a energia vai diminuindo, vamos nos encolhendo, e deixando de querer sair. Sem perceber, já estamos muitas vezes escolhendo seguir isolados. Mas sair ontem me fez ver o quanto precisamos da vida lá fora. Como diria Vinicius de Morais, ‘a vida só se dá pra quem se deu’. Rever algumas amigas foi especial, precisar me cuidar, me embelezar um pouco, foi especial, precisar sair de carro para um lugar desconhecido, foi especial, entrar no Ministério de Cultura do país, sendo esperada por duas fotógrafas para uma sessão de fotos, foi mega especial (me senti a própria Gisele Bunchen!), precisar interagir com desconhecidos na rua, pra perguntar onde era a entrada do prédio ou onde estacionar, foi especial. Tudo foi especial. Foi importante para que eu pudesse ver o quanto o convívio faz falta. O quanto precisamos estar de alguma forma incluídos em um todo maior que apenas a nossa casa. É hora de buscarmos a energia para voltar a viver e sair do casulo, porque dessa vida, ninguém sai vivo no final!
As fotos das fotógrafas ainda não tenho, mas essa aí tirei em casa logo antes de sair! 😉