Renata Bicalho

Escritora

O nosso Big Bang

por Renata Bicalho

Boom! Uma explosão. Boom, boom! Outra. E mais outra. Muitas explosões poderiam ter sido ouvidas naquele momento, mas não foram. Flashes de luz poderiam ter sido vistos, como um enorme espetáculo de fogos de artifício, mas ninguém viu. Quem sabe até diversos odores sobressaíram ali. Talvez o cheiro de fogo, de combustão, de gases variados, ou até o cheiro de rosas, de grama recém cortada e do café recém moído, sei lá. Talvez todos os cheiros do mundo, misturados, ao mesmo tempo, poderiam ter sido sentidos naquele momento, mas ninguém sentiu.

A explosão foi assustadora e, ao mesmo tempo, maravilhosa. No escuro do espaço, as luzes, o estrondo e o milagre da criação aconteceram sem plateia. O Big Bang pode ser estudado, imaginado e pesquisado, mas não foi testemunhado.

Vários planetas, luas, estrelas, cometas, astros em geral se espalharam de maneira rápida em um espaço antes escuro e vazio. Pontinhos de luz, como vagalumes brilhando suspensos no ar. Poesia pura! O mundo foi criado em uma dança intensa, às vezes delicada, suave e volátil, outras vezes violenta, forte e agressiva. E milhões de anos se passaram até que chegamos aqui. Hoje. 

Sentada na cadeira do quintal, presa em casa por uma quarentena que já dura mais de 100 dias, imposta por governos no mundo todo, em uma tentativa desordenada e despreparada de se conter um vírus potencialmente letal e altamente contagioso que, invisível no ar, se espalhou pelo planeta e mudou a vida de todos.

Nessa cadeira em que me deixo esparramar no quintal de casa, no escuro da noite, aprecio as luzes das estrelas, a lua cheia que brilha no céu com todas as suas sombras e crateras. Imagino como se formaram aquelas marcas. Seriam consequências de estrelas, ou outros astros que se chocaram com a nossa lua? 

Presos em casa há mais de 100 dias, só nos resta observar os pontinhos brilhantes na noite escura, ou os pássaros e borboletas que voam livres durante o dia. Precisamos da poesia para seguirmos com esperança e com a imaginação solta, ilustrando mentalmente aquele Big Bang nunca testemunhado. 

Quem sabe um novo Big Bang estaria silenciosamente em curso nesse momento? As energias e a luz de cada um de nós poderiam estar reclusas em suas casas, em seus casulos, se transformando durante a pandemia, vibrando alto e forte para uma evolução tão necessária. Um novo mundo de mais amor, mais empatia e de harmonia poderia tanto estar sendo silenciosamente criado em cada um de nós!

Boom! Como desejaria testemunhar este milagre!   

 

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