
Dia 487 da quarentena.
/ Diário de Renata Bicalho.
/ Ela se olha no espelho do banheiro. Está lavando suas mãos com cuidado, como tem feito várias vezes ao dia nesses tempos de corona. Atrás do seu reflexo, vê também a janela e a vista lá de fora. Escuta o cantar de um pássaro e o vê ali, dentro do espelho.
Depois de tantos dias, semanas, meses presa em casa pela quarentena, a imagem daquele pássaro de barriga amarela e asas azuis, acompanhado do som da água que escorre da torneira e do canto aveludado daquela ave, a levam a fechar os olhos por um segundo, buscando sentir a liberdade e a leveza daquele cantor feliz.
Ela, então, decide pegar um caderno, armar-se de lápis de cor e desenhar pássaros, um céu azul com poucas e delicadas nuvens, algumas árvores, flores e um casal de borboletas brancas.
Terminado o desenho, ela se transporta para aquele caderno, e se sente alegre e livre de novo. Eureca! Esse é o segredo para sair da prisão domiciliar imposta pela quarentena: desenhar vidas paralelas, mundos alternativos, e se transportar para eles.
Se cansa dos cadernos. Decide buscar novas aventuras em livros!
Volta ao banheiro para lavar suas mãos mais uma vez, “melhor garantir, né?!”, e vai, agora, atrás de um romance.